A ingestão de alcachofra está a ser promovida nas redes sociais como um método eficaz para controlar os níveis de açúcar no sangue. A publicação em causa apresenta uma fotografia de alcachofras e, na descrição, surge apenas uma frase: “Utilize a alcachofra para regular o açúcar no sangue”.

Este post tornou-se viral em grupos de Facebook dedicados à divulgação de receitas para emagrecimento rápido. Associado a este alegado efeito da alcachofra está também a utilização deste alimento como receita para o controlo da diabetes.

Posto isto, coloca-se a questão: é verdade que a alcachofra regula os níveis de açúcar no sangue? E pode ajudar em casos de diabetes?

A alcachofra regula os níveis de açúcar no sangue?

A alcachofra não é um alimento com “propriedades únicas e especiais antidiabéticas”, começa por responder Francisco Sousa Santos, endocrinologista no Centro Hospitalar Lisboa Ocidental e autor da página Hormonas em Bom Português, em declarações ao Viral.

No entanto, sublinha o médico, a composição nutricional da alcachofra pode constituir uma mais-valia para quem procura uma absorção mais lenta da glicose. Quer isto dizer que a alegação presente na publicação em análise é exagerada.

“Este alimento tem um conteúdo de fibra muito elevado, corresponde a quase um terço do seu peso”, explica o endocrinologista. As fibras são um tipo de hidratos de carbono “complexo” que o “intestino não consegue decompor”, o que faz com que o processo de absorção da glicose (açúcares) seja mais lento.

De facto, a ingestão de alimentos ricos em fibra leva a um “pico de glicemia inferior” após a refeição. Esta característica das fibras está também relacionada com uma maior sensação de saciedade, pelo que a sua ingestão pode ser uma “estratégia para as pessoas comerem menos”, acrescenta o especialista.

No entanto, este efeito não é exclusivo da alcachofra e está presente em vários alimentos ricos em fibra. 

“Não há estudos que analisem a alcachofra e identifiquem um tipo de fibra específica [neste alimento] que tenha este efeito”, afirma Francisco Sousa Santos. 

Uma revisão sistemática, publicada em 2020, analisou nove estudos sobre os efeitos da alcachofra – tanto em forma de alimento como de suplementos – na regulação da glicemia (quantidade de glicose no sangue). 

Apesar de a investigação apontar a alcachofra como uma potencial forma de reduzir os níveis de glicemia em jejum, em indivíduos adultos, os investigadores sublinham que, atualmente, “não há resultados suficientes de que a alcachofra e os suplementos de alcachofra tenham um efeito nos restantes índices de glicemia”. 

Francisco Sousa Santos reconhece que a alcachofra pode ser “um alimento bom para um doentes diabéticos, mas no contexto de uma dieta variada“. 

A alimentação para pessoas com diabetes deve ser acompanhada por um médico especializado, uma vez que, dependendo do tipo e do grau da doença, o paciente poderá ter de fazer uma dieta específica e adequada à condição.

Além disso, há também evidência que relaciona o consumo de fibra com a manutenção de uma microbiota intestinal saudável. Um artigo, também publicado em 2020, analisou o impacto de diferentes bactérias no intestino na diabetes tipo 2, concluindo que algumas bactérias podiam estar negativamente associadas com a doença, enquanto outras teriam um efeito positivo.

Em suma, a alcachofra tem uma elevada quantidade de fibra, o que poderá ter efeito no tempo de absorção da glicose durante o processo digestivo. Esta absorção mais demorada está associada a um menor pico de açúcar no sangue. No entanto, a alcachofra não tem propriedades especiais e não deve ser entendida como uma forma de tratamento para a diabetes.

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Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.

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